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domingo, 14 de julho de 2013

VISÕES DA MINHA MORTE

VISÕES DA MINHA MORTE

Dama negra, por que bates na porta?
Vieste buscar minha alma que jaz morta..
Entre… estou no meu leito agonizando…
Chamando-te por horas e mais horas…
Suplicando-te nas últimas horas
Para partir com os olhos fechando;

Podes entrar no meu quarto assim dama…
Vestida no negror que te dá fama;
Estou de cama com terminal doença;
Respiro ofegante o teu frio ar morte…
Sinto-te aqui comigo doce morte…
Não temerei jamais tua presença;

Quando entraste no meu quarto sozinha…
Vi o medo na minha alma tristinha;
Solucei os meus ais quase infinitos…
Abri meus braços lânguidos sorrindo…
E vi-te ó morte ao meu lado sorrindo…
E vendo-te assim eu sorri aos gritos;

Estiveste comigo na triste hora…
Na hora que levaste a alma minha embora;
Lágrimas derramei dos olhos meus…
Lágrimas que secaste do meu rosto…
Puras lágrimas que em meu triste rosto
Rolaram com os tantos sonhos… Deus;

Estarrecido olhei a minha volta;
Nenhum anjo faria a minha escolta…
Olhava para o lado e ela sorria…
Arrebatado em minha cama e só,
Eu sentia que não estava só…
Do meu lado ela não… ela não saía;

Ela jamais falava ao meu ouvido;
Murmurava de longe… “meu querido”…
Vim levar-te para o reino dos céus…
Não temas minha fúnebre presença…
Não sinta-se mal na minha presença;
Só vim cobrir-te com meus brancos véus;

E nas visões fúnebres que eu tinha…
Eu via corvos na janela minha…
Aves horrendas de frios sarcasmos;
As vi fitando o meu corpo finito…
Afiando suas garras de finito…
Como se fossem gélidos espasmos;

Uma voz trêmula erguia-se em mim;
Murmurava palavras num esplim
Profundo e derradeiro de mistérios
Não revelados a alma sem pilares…
Gemendo nos altares sem pilares…
As dores de profundos sacrilégios;

E quando a noite, no total negrume…
Ouço o barulho que ninguém assume;
Sinto ela ao meu redor fazendo adejos…
A cortina sacode lentamente…
Os pêlos do meu braço lentamente
Arrepiam, e morrem meus ansejos;

E quando por vez os meus olhos nus
Já não virem mais a límpida luz;
E quando frio o meu corpo ficar…
Deixem entrar as aves funerárias…
Deixem elas comerem funerárias
Sobras dum corpo a se desintegrar;

E quando for ouvido o último som
Enquanto meu rosto ainda tiver tom
Corado… enquanto minha lucidez
Ainda se manter forte e preservada…
Guardem a última imagem preservada
Do meu ser que partiu de uma vez;

As fibras sustentadas na minha alma
Vão se rompendo uma à uma com calma…
A endecha que ouço é fúnebre e fatal…
De uma lamúria insigne profunda…
Regozijo da minha alma profunda
Vendo escadas e torres de cristal;

Visões desfiguradas no negror
Do meu quarto cheirando todo a flor…
Longos suspiros, últimos suspiros…
Sensação de dormência penitente…
De uma lágrima doce e penitente
Cair dos meus olhos mórbidos aos giros;

Os meus sonhos de outrora são defuntos…
Vão comigo descer, todinhos juntos;
Hão de chorar as flores que eu colhia…
Todas murchando nos vasos com água…
Pétalas caindo dentro da turva água
Do vaso que a mão minha outrora erguia;

E nas palavras que eu não mais dizia…
Por ver o vulto da morte sombria
Ao meu lado aqui no quarto gelado…
Eu previa e sentia que era o fim…
Que os meus dias teriam por vez fim…
Que eu fecharia os olhos meus calado;

Sentindo no peito as fracas batidas…
Não mais machucam as minhas feridas;
Minha tristeza já é morta em mim;
Minhas lágrimas são gotas douradas…
São sonhos lindos nas noites douradas…
São perseidas tombadas no sem fim;

Os que amei nesta vida retumbante…
Como os encontro em um sonho distante?
Onde estão? Estão todos já dispersos…
Sucumbiram lá nos frios caixões…
Viraram cinzas nos negros caixões…
Pó cósmico nos doces universos;

 Metrificada     

13 comentários:

Laura Santos disse...

Samuel, que poema tão profundo! Como grande sono da morte, a finitude. E como a morte pode ser tão amarga e doce...Vi minha mãe agonizar com uma doença terminal aos 43 anos de idade, e a morte inevitável foi de certa forma um alívio para tanto sofrimento.
A morte é inevitável para todos nós,mas que pena quando a vida foi tão injusta...
Bom domingo! Carpe diem!

Lua Singular disse...

UAU !
Quanta competência!
Poesia metrificada não é para qualquer um, só podia se de um poeta consagrado.
Faça outra, mas fale de amor que é a alavanca da vida.
Beijos
Lua Singular

" R y k @ r d o " disse...

Palavras para quê?... Assim escreve um poeta fantástico

Parabéns amigo Samuel Balbinot... assim sim, viva a poesia profunda, sentida, fascinante

Abraço
********************************
Querendo, visitem-me... Obrigado

http://pensamentosedevaneiosdoaguialivre.blogspot.pt/

Shirley Brunelli disse...

Querido amigo Samuel, arte, imaginação, sensibilidade, cadência, métrica para falar da morte! Muito bom, amei! Espero que você já esteja descansando em paz, rs!!!

Cidália Ferreira disse...

Samuel: Vou contar uma coisa.. Não li o poema todo, fala de morte, tenho pânico.. já estive à morte..

Mas és um grande Poeta, Parabéns

Abraço!
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Aline Goulart disse...

Nossa! Até sobre um assunto tão delicado de se falar, tu conseguiste transforma em uma grande poesia. Parabéns pelo seu grande talento. Beijos.

Carmen Lúcia.Prazer de Escrever disse...

Linda,mas um pouco temerosa.
Na verdade existem pessoas que talvez tenham previsões de morte e isso deve ser alucinante.
Não tenho medo da morte,mas tê-la como uma previsão não me agrada.
A poesia ficou maravilhosa.

Bjs amigo Samuel
Carmen Lúcia-mamymilu.blogspot.com

Lu Nogfer disse...

Intenso e super sensível!
Parabens pelo dom poético!

Beijos.

Anônimo disse...

Como me apasionan las letras que lucen un tinte oscuro te diré que me fascinó leerte.
Excelente entrada, muy buena elección, te dejo un fuerte abrazo.

Claudinha ੴ disse...

Olá Samuel! Já estive perto dessa senhora, mais de uma vez. Aliás, este foi o motivo de meu blog existir (fazendo dez anos,aliás, venha para a festa!) Se quiser ler, leia no meu link Fractais.
Métrica, morte... Não me dou bem com as duas, mas aprecio todo e qualquer verso, escrito, cantado, como uma oração. Parabéns!

Anônimo disse...

Olá amigo Samuel,
Nossa que monumental poema!
A poesia, a escrita é livre!
E podemos falar sobre qualquer tema...
E falaste com muito louvor sobre a 'morte'
Que é um fato!
Na minha modesta opinião, ficou um poema muito bem construído.

Agora falando sobre as rimas,rs...
Nem me atrevo a competir contigo, ainda sou uma grande aprendiz. Apenas tenho um poeta coração, que arde ao falar de amor e paixão.

Obrigada pela simpática visita!
Desejo-te uma boa noite,
Beijos!

Fernanda Oliveira

Nádia Santos disse...

Como disse a amiga Carmem... tenebrosa. Um bju poeta.

=> Gritos da alma
=> Meus contos
=> Só quadras

Patrícia Pinna disse...

Um grande poema que desenvolveu muito bem.
Esse tema é arrepiante.
Morte aqui, vi não só a física, mas principalmente a espiritual.
Morte de vontades, onde a ausência de continuar prevalece.
Nunca vi ninguém falar de morte assim.
Beijos e muita VIDA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!